Os secretários Arthur Lima (Casa Civil) e Gilberto Kassab (Governo), dois dos principais auxiliares do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), protagonizam uma queda de braço desde o início da gestão. A briga inclusive afeta a já combalida relação do executivo com a ALESP (Assembleia Legislativa de São Paulo). Publicamente, os dois negam desavenças, mas nos bastidores não é bem assim.
Lima e Kassab travam um embate pelo posto de número dois no governo — depois do próprio Tarcísio. O primeiro é amigo do governador há anos e faz parte da “turma de Brasília“, como é conhecido o grupo formado por pessoas da confiança de Tarcísio que trabalharam com ele no governo federal. Já Kassab, presidente do PSD, foi um dos maiores apoiadores do político durante a campanha eleitoral. Kassab é o encarregado da articulação política. Conhecido por ser um habilidoso articulador, o secretário é o responsável por negociar acordos com partidos, o que inclui pedidos por cargos e foi o nome destacado para, nas palavras do governador, “fazer a mediação política” e ser a “interface com a Assembleia Legislativa e com as prefeituras“. Já a Casa Civil seria o “centro do governo“. Tarcísio disse que a função da pasta seria atuar junto com as outras secretarias para efetividade das políticas públicas. Ao anunciar Lima para vaga, o governador destacou que o advogado era uma pessoa de sua total confiança e com perfil técnico.
Na prática, no entanto, Lima tem centralizado as funções e age para frear a influência de Kassab, segundo deputados e integrantes do governo. Embora o presidente do PSD faça as negociações, a “caneta” fica com o chefe da Casa Civil. Todas as nomeações passam pelo escrutínio de Lima e elas não têm sido aceitas, reclamou um deputado da base aliada. Alguns parlamentares entendem que o Chefe da Casa Civil tem planos de se lançar na política, até por estar se preparando para se filiar ao PP em agosto. Existe também quem minimiza a rixa avaliando que o suporte político de Kassab ao governador e a relação de confiança dele com Lima funcionam como um sistema de peso e contrapeso na gestão e não como uma briga interna.
A queda de braço entre os secretários, entretanto, irritam os deputados e prejudica a relação entre governo e base. Os parlamentares reclamam que não sabem se devem procurar Kassab ou Lima para pedidos e avaliam que essa rivalidade impediu que a relação entre o governo e a ALESP se estruturasse. Sem que tenham suas demandas atendidas, aliados insatisfeitos cruzam os braços para aprovação de projetos de interesse do governo.
Parlamentares admitem que Tarcísio tem tido dificuldade de aprovar projetos na Alesp. Sem votos suficientes da base por causa desses tropeços na articulação, a oposição terminou sendo decisiva em votações importantes, como a do reajuste dos servidores públicos e da autorização para contratação de um empréstimo para construir o trem intercidades. Os deputados também citam “a capacidade limitada de articulação” do líder do governo na ALESP, Jorge Wilson Xerife do Consumidor (Republicanos), como outro entrave.
A blindagem que Tarcísio tenta fazer do loteamento político no governo é outro fator citado pelos parlamentares. A ordem do governador e uma promessa dele de campanha, é seguir critérios técnicos para nomeações. O comando da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), prometido ao União Brasil, não foi entregue o que gera insatisfação do partido.
Bolsonaristas da Alesp também estão ressentidos por entenderem que deveriam ser mais privilegiados pelo governador. O único partido da base que segue 100% alinhado com o governador é o Republicanos, ao qual ele pertence. “Está todo mundo insatisfeito“, resumiu um parlamentar paulista. O governo deve ceder dinheiro de emendas na volta do recesso para acalmar a base. A expectativa é que cada um receba cerca de R$ 10 milhões.