Diante do maior prejuízo do setor, cerca de 500 milhões de reais e com 109 cooperativas no vermelho, o sistema UNIMED (União de Médicos), atravessa a pior crise de sua história. Fundada há quase seis décadas com o propósito de oferecer autonomia aos médicos e acesso à saúde, a organização agora enfrenta um cenário de estagnação, prejuízos e incertezas sobre seu futuro.
A UNIMED nasceu em 1967, em Santos (SP), com a criação da primeira cooperativa médica por um grupo de 23 médicos liderados por Edmundo Castilho. A proposta era revolucionária: os próprios profissionais de saúde seriam os gestores dos planos, rompendo com a lógica exploratória dos hospitais privados. A ideia se espalhou rapidamente e, em 1975, foi fundada a UNIMED do Brasil, uma federação para coordenar o sistema nacional.
Atualmente, são mais de 339 cooperativas espalhadas pelo país, com 166 hospitais próprios e cerca de 29 mil prestadores credenciados. O sistema atende aproximadamente 20 milhões de pessoas, no entanto, apesar do porte robusto, a rede lida com graves dificuldades financeiras e estruturais.
Um dos principais entraves apontados por especialistas é o modelo federativo, considerado descentralizado demais. A falta de gestão integrada, os conflitos regionais e a pulverização de decisões administrativas têm comprometido a capacidade de resposta da organização diante das rápidas transformações do setor de saúde e das exigências regulatórias.
Outro fator crítico é o aumento acentuado dos custos. Entre os anos de 2006 a 2024, os planos de saúde acumularam uma inflação de 327%, quase o dobro da inflação geral do país. Isso levou muitas famílias a migrar para clínicas populares e atendimento particular. Em 2023, os brasileiros gastaram R$ 302 bilhões com serviços de saúde fora dos planos, contra R$ 275 bilhões investidos em convênios médicos.
Apesar da estrutura imponente, o número de beneficiários da Unimed permanece estagnado há mais de uma década, em torno de 50 milhões. Estima-se ainda que cerca de 60 milhões de brasileiros recorrem a alternativas como o atendimento público ou o pagamento direto, sem nenhum tipo de cobertura.
Diante do agravamento da crise, foi necessário um aporte emergencial de R$ 1 bilhão na UNIMED Nacional. O futuro do sistema, que sempre se orgulhou de ser feito por médicos e para médicos, dependerá agora de sua capacidade de reinventar sua gestão sem abandonar os princípios cooperativistas que o tornaram referência global.