A recente inclusão da tilápia na lista de espécies exóticas invasoras pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO), tem causado apreensão e críticas entre piscicultores. O órgão, que é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), enquadrou o peixe na mesma categoria do javali, cujo parte da estratégia de controle oficial envolve erradicação.
Enquanto isso, paralelamente, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) autorizou a importação da tilápia vinda do Vietnã. A decisão acendeu o alerta entre criadores, entidades do setor e especialistas em sanidade animal. Ainda sim o primeiro dos 32 contêineres de tilápia importada pela empresa JBS (José Batista Sobrinho) já está a caminho do nosso país.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, ficando atrás apenas de China, Indonésia e Egito. Foram mais de 600 mil toneladas produzidas em 2024, representando 68% da produção nacional de peixes cultivados, segundo o Anuário PeixeBR 2025. Essa produção sustenta cerca de 3 milhões de empregos diretos e indiretos (a maioria no Nordeste), abastece o mercado interno, além de movimentar exportações que somaram US$ 59 milhões no último ano.
A Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) alerta que o baixo custo de produção da tilápia asiática, favorecida por subsídios e legislação ambiental mais branda, cria uma concorrência desleal com os piscicultores brasileiros, que operam sob regras rigorosas e custos mais elevados. Além disso, há o temor de que essa abertura gere um efeito dominó, desestimulando investimentos no setor, pressionando o preço pago ao produtor nacional e promovendo a dependência externa em um segmento no qual o Brasil é protagonista mundial.
O cenário expõe uma contradição estratégica, já que o governo brasileiro defende publicamente a sustentabilidade e o fortalecimento da produção nacional, mas nos bastidores abre espaço para uma concorrência externa que ameaça uma cadeia consolidada e em crescimento. O setor aquícola pede coerência e apoio. Para os piscicultores, o momento é de alerta máximo: ou o Brasil protege sua cadeia produtiva de peixes — hoje referência em sustentabilidade e qualidade — ou arrisca ver ruir um dos setores mais promissores do agronegócio nacional.











