Brasil: originadas na Europa, festas juninas misturam devoção, comidas e danças

Brasil: originadas na Europa, festas juninas misturam devoção, comidas e danças

As tradicionais festas juninas brasileiras nasceram no continente europeu católico e foram introduzidas no país pelos portugueses durante o período colonial. Fogueira, quermesse e quadrilha são parte tradicionais desses eventos que trazem afetividade, religião, cultura e narrativas que atravessam séculos de história popular. Embora tenham sido a princípio solenidades católicas, no Brasil, mais do que datas litúrgicas, elas são experiências coletivas que misturam comida, dança e memória. 

Cada arraial, cada fogueira acesa e cada simpatia feita com fé expressam uma catequese viva, transmitida não por livros, mas por gestos, sabores e ritmos que fazem universo de sentidos para a religiosidade popular e dizem muito sobre nossa cultura”, diz Ana Beatriz Dias Pinto, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

A professora, explica que a tradição da fogueira vem de um acordo entre Isabel e Maria, primas grávidas. Elas combinaram que, quando João nascesse, Isabel acenderia uma fogueira para avisar Maria. “Assim surgiu o sinal, que se acende até hoje em cada quermesse do Brasil para celebrar o nascimento do único santo festejado no dia em que nasceu, e não no dia da morte” diz ela.

O arraial, outro símbolo tradicional das festas juninas, é a recriação de uma aldeia temporária onde há sempre uma igreja, um casamento e padrinhos. “É uma miniatura da própria organização social brasileira, mas numa versão colorida e brincante, homenageando o povo caipira, o povo que oferece aos centros urbanos o alimento” diz a professora.

O termo quermesse para denominar a festa vem do flamengo kerkmisse, palavra que nasceu da língua falada na região da Flandres, na Bélgica. A festa nasceu como evento beneficente e, com o tempo, incorporou forró, barracas de jogo, bingo e cachorro-quente aqui no Brasil. “No fundo, continua sendo celebração comunitária, de agradecimento pelas colheitas e para celebrar que o povo quer culto, mas também quer festa, união, convivência e amizade. Valores presentes à formação social brasileira no campo e na cidade“, explica Ana Beatriz.

As festas juninas no Brasil coincidem com a colheita de alguns alimentos, como o milho, amendoim, pinhão, uva. Desses produtos resultam pratos como a canjica, a pamonha, o bolo de milho, o curau, o pé-de-moleque, pinhão cozido ou assado. As bebidas, como o quentão e o vinho quente, que têm origem portuguesa, surgiram como função social de aquecer o corpo.

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