O tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump aos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto deverá ter impactos mais profundos em estados que mais exportam para os EUA. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, esses estados juntos representam 73% do que é produzido no Brasil e vendido ao país norte-americano.
No primeiro semestre de 2025, esses estados exportaram um total de US$ 14,65 bilhões para os EUA, de acordo com dados oficiais do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). As exportações totais no sentido Brasil-Estados Unidos somaram R$ 20 bilhões, um aumento de 4,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
Só São Paulo mandou US$ 6,4 bilhões de janeiro a junho de 2025, com destaque para sucos de frutas, equipamentos de engenharia civil e aeronaves. Na sequência aparecem Rio de Janeiro (US$ 3,2 bilhões), Minas Gerais (US$ 2,5 bilhões), Espírito Santo (US$ 1,6 bilhão) e Rio Grande do Sul (US$ 950,3 milhões), com um portfólio variado de produtos, incluindo petróleo, café, tabaco, ferro, aço e máquinas de energia elétrica.
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), que representa negócios brasileiros com os EUA, fala em “risco de impactos severos sobre empregos, investimentos e cadeias produtivas”. O presidente da Amcham Brasil, Abrão Neto, diz que “estamos diante de um grave cenário que pode inviabilizar boa parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos, sobretudo de bens industriais, com prejuízos para ambas as economias”.
Devido à importância dos EUA para o comércio exterior brasileiro, os governadores dos estados mais afetados reconheceram que a tarifa de 50% é prejudicial aos setores estratégicos e que é necessário encontrar caminhos diplomáticos para reverter a decisão de Trump. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP), disse que “o tarifaço é deletério, principalmente para aqueles estados que têm produção industrial de maior valor agregado” e que é preciso “deixar de lado as questões políticas” e “trabalhar“.
Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, afirmou que a tarifa de 50% é “uma medida errada e injusta” e que “precisa ser revista, porque penaliza todos os brasileiros“. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), classificou a medida como um “retrocesso” e diz que é preciso defender “o comércio justo e o respeito entre as nações“. Por sua vez, Eduardo Leite (PSD), do Rio Grande do Sul, destacou a importância dos EUA nas exportações do estado e afirma que vai trabalhar para “garantir a competitividade e menor impacto possível” à economia. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), não se pronunciou.
Além dos valores exportados, o Espírito Santo tem os Estados Unidos como o principal destino de seus produtos: 33,9% do que é produzido no estado vai para o país norte-americano. Os EUA são também o principal parceiro comercial de São Paulo, representando 19,4% do total exportado. O estado entretanto, que tem os EUA como maior importador, em termos de representatividade, é o Ceará. Acima da metade da produção exportada (51,9%) vai para o país de Donald Trump. No total, no primeiro semestre deste ano, o comércio com os Estados Unidos somou R$ 556,7 milhões para o Ceará, impulsionado principalmente pelas exportações de ferro e aço.
Além de criticar Trump diretamente pela taxação anunciada, o governador cearense Elmano de Freitas (PT) afirmou que seguirá defendendo os “trabalhadores e a nossa capacidade de competir de forma justa no mercado internacional”. Principal afetado no estado, o setor industrial, representado pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), informou que não se manifestaria sobre o assunto.