Criada em um mundo hiper conectado e marcada por transformações culturais sem precedentes, a chamada Geração Z, que abrange os nascidos entre 1995 e 2010, tem despertado crescente preocupação entre especialistas. Fragilidade emocional, apatia diante da vida adulta e uma crise de valores aparecem como sintomas de uma atrofia geracional que ameaça tanto o desenvolvimento individual quanto a saúde social.
O diagnóstico traçado por diferentes vozes aponta para uma geração que, embora digitalmente fluente, enfrenta sérios déficits emocionais, morais e intelectuais. A responsabilidade pelo resgate, segundo os especialistas, recai sobre a família e também sobre a escola, que agora precisam trabalhar juntas para devolver à juventude aquilo que a tecnologia e a cultura da superproteção subtraíram – resiliência, disciplina, empatia, virtudes, senso de dever e amor à vida. Afinal, como alertam, não se trata apenas do futuro da Geração Z, mas do futuro da própria sociedade.
Um dos traços mais preocupantes dessa geração, apontados por especialistas, é a apatia diante do futuro. Matheus Bazzo, produtor cultural e empresário, em artigo no jornal Gazeta do Povo, destacou algumas características da Geração Z, como a rejeição ao casamento, à constituição de família e até mesmo à dedicação profissional. Ele vê nessa tendência não prudência, mas paralisia. “O problema da Geração Z não é a prudência, mas a paralisia. Essa é uma geração que não age. Que não se arrisca. Que não se compromete”, diz ele.
Segundo a cultura do entretenimento e as novas tecnologias criaram uma percepção de mundo sem sentido, marcado por catastrofismo e desencanto. O risco, alerta, é a formação de “uma geração sem identidade, sem voz, sem rastro no tempo”. Ao basear a infância nas telas, em recortes distorcidos e visões limitadas, a Geração Z não apenas fragilizou o equilíbrio emocional, mas também incentivou uma postura de censura a ideias consideradas ofensivas, em vez da disposição para o debate. O resultado é então uma geração ansiosa, mas também “mimada e intolerante”.
O livro A Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt, explica bem o fenômeno da Geração Z. Haidt argumenta que a superproteção e o uso excessivo de dispositivos digitais aumentaram significativamente os índices de ansiedade e depressão entre jovens. O autor chama de “Grande Reconfiguração” a transição, a partir de 2010, da infância baseada no brincar para a infância baseada no celular, fenômeno que, segundo Razzo, gerou uma juventude emocionalmente mais vulnerável e menos preparada para os desafios da vida adulta.
Uma possível reversão dessa tendência estaria no resgate dos valores humanos. Nesse sentido, Andriguetto Junior, Doutor em Educação, defende a busca por uma “Geração H”, centrada nas virtudes. Inspirado no neurocientista Howard Gardner, ele sustenta que ninguém pode alcançar excelência profissional sem ser, antes, uma boa pessoa.
A essência para essa transformação estaria na aplicação diária de valores, como o compromisso com a palavra dita, as relações olho no olho, a grandeza do afeto, as responsabilidades diárias, a ética e tantas outras virtudes humanas. Trata-se de um caminho difícil, que exige grande comprometimento. Isso, defende o educador, levaria a formação de uma geração humana que valoriza o caráter, a escuta, a interação social verdadeira, a consciência global e social, a espiritualidade e a sofisticação inerentes a um ser humano.
Fonte: Gazeta do Povo











