Caso pedíssemos para que você dissesse o nome de três prefeitos do Rio de Janeiro sem procurar ou pensar muito, provavelmente os nomes mais citados seriam Eduardo Paes, César Maia e Pereira Passos. Fizéssemos o mesmo pedido para Niterói, descontado o atual prefeito, Rodrigo Neves, o segundo mais citado seria Jorge Roberto Silveira. Já para Curitiba o nome certamente seria o de Jayme Lerner. O que todos eles tem em comum para ter esse espaço na memória coletiva?
Todos são ou foram, guardadas as devidas proporções, prefeitos do tipo “Bota Abaixo“. Essa expressão surgiu pelas reformas urbanas realizadas no Rio de Janeiro durante o mandato de Passos no início do século XX. Em resumo se alguma construção era feia, suja, incomodava ou atrapalhava o projeto urbanístico da cidade, o prefeito mandava derrubar. Após as reformas, e em grande medida por causa delas, a capital carioca ganhou o título de Cidade Maravilhosa.
Não foi diferente durante os mandatos de César Maia e Eduardo Paes. Inclusive Paes, por ser dos três o mais recente, é o mais fácil de analisar, do ponto de vista político. Seu Choque de Ordem, aplicado no começo de seu primeiro mandato, enfrentou um infinito universo de polêmicas por suas iniciativas urbanísticas. Quem mora no interior do estado não acompanhou, mas a polêmica foi grande.
O resultado da iniciativa é que a capital passou pela sua maior mudança estética desde (ora vejam só), Pereira Passos. Eduardo fez tantas mudanças ao ponto de bairros inteiros serem trocados de lugar. O resultado final é que a Perimetral deu lugar ao túnel Marcelo Alencar, o centro histórico do Rio e a região portuária foram revitalizados, o carioca ganhou o VLT (Veiculo Leve sobre Trilhos) e Paes tornou-se a pessoa a mais tempo ocupar o cargo de prefeito da cidade.
No caso de Cláudio Cerqueira Bastos (Claudão) em Itaperuna, não foi diferente. O prefeito conhecido por ser popular, mas também urbanista, soube a hora de fazer grandes intervenções urbanas. Quando houve a mudança da antiga rodoviária de local, optou pela distribuição dos comerciantes que ocupavam o espaço por todo o calçadão. Enfrentou discussões e polêmicas de quem não queria, achava que não daria certo e torcia contra? Sim. O tempo mostrou que ele estava certo.
Essa reclamações, quando grandes mudanças acontecem nas cidades, não são sem motivo. É cultural do brasileiro “ter pena” ou fazer o possível para evitar “confusão“. Qualquer conflito é visto como evitável e, em geral, o brasileiro médio prefere “deixar como está para ver como que fica”. Todos querem achar um “meio termo” ao primeiro sinal de oposição.
O resultado é que as cidades brasileiras são, em regra, bastante desorganizadas. Basta alguém chegar e colocar um carrinho para vender alguma coisa que vira automaticamente dono do espaço público com direito a gritar e espernear caso lhe peçam para que saia.
Quando o novo paradigma de organização ou obra está completa entretanto, curiosamente a oposição some junto e vem a reboque uma aprovação generalizada. O motivo? O brasileiro tem desespero para morar em cidades bonitas, limpas e organizadas. Só que a beleza vem da ordem e de padrões claros. Não importa se moderna ou clássica, para ser bonito precisa seguir certo padrão e ordem, sem isso fica feio. O resultado é que a reclamação desaparece quando as pessoas percebem que a “confusão” inicial era o preço a ser pago para que houvesse uma melhora no final.
A verdade é que qualquer prefeito que tenha coragem de fazer o mesmo Bota Abaixo que Pereira Passos fez no Rio (ou o mesmo Choque de Ordem de Eduardo Paes) não só deixará uma cidade mais bonita, como também será reeleito e indicará infinitos sucessores para a cadeira do executivo. Não somos nós que estamos dizendo, é a história!