Um marco histórico ocorreu ontem (15/08), em Italva, com a realização do primeiro pacto social e institucional da nossa região em torno de um assunto. Ainda que os participantes possam não ter entendido, foi um momento de grande importância para todo o Noroeste Fluminense.
Pactos institucionais/sociais, são acordos, não necessariamente escritos, em que as principais forças sociais, políticas, religiosas, acadêmicas, etc. chegam em um consenso sobre determinados assuntos e o rumo que deveria ser seguido. Historicamente falando, cidades, estados e países que conseguiram crescer e se desenvolver passaram por esse processo de pactuar entre as forças da sociedade o que deveria ser feito sobre um assunto ou para guiar um certo local geográfico.
O Brasil, como um todo, não possui grande maturidade nessa seara, mas quando pactos assim acontecem os resultados são de um sucesso notável. Um exemplo próximo é o do Espírito Santo, que fez um pacto institucional em torno do uso dos royalties para o estabelecimento de uma infraestrutura capaz de sustentar e ampliar a economia estadual. Como resultado vimos os nossos vizinhos florescerem nos setores do turismo, agricultura e indústria nos últimos 15 anos, acompanhando justamente a considerável expansão da infraestrutura do estado.
O Noroeste Fluminense não possuía, até ontem, nenhum pacto social ativo. As forças mais importantes da nossa sociedade basicamente não concordavam com nada acerca da região. Não é atoa que vivemos na região menos desenvolvida e pobre do nosso estado. Isso felizmente mudou com o veto do presidente Lula ao projeto de reclassificação climática do noroeste.
As forças sociais atuantes em nossa região, vendo a ação do presidente contra algo que beneficiaria todo o Noroeste, começaram a se mover em conjunto. O resultado foi uma reunião que juntou tudo em um único pacote – adversários, políticos de esquerda, de direita, de centro, produtores rurais, ministros e ex-ministros. Todos com um único propósito – defender o agro regional.
Você, leitor mais atento, deve ter percebido que, embora o projeto vetado por Lula atinja também o Norte Fluminense, nós temos dado foco apenas a região Noroeste. Fizemos assim por dois motivos: primeiro por ser a região que será mais afetada pelo veto, já que é “a mais rural” dentre as duas, e segundo em virtude desse pacto social em defesa da agropecuária ter sido feito pelo Noroeste, ou seja, não se aplica a região Norte Fluminense.
Esses “pactos” são acima de tudo simbólicos, ou seja, não são apenas uma folha de papel assinada, mas sim uma compreensão entre os atores da sociedade sobre um certo caminho. Por isso reforçamos que o pacto é da região Noroeste, pois foi a totalidade de prefeitos e autoridades daqui que entenderam e sentiram o peso do veto de Lula. Isso sem nem considerar que a reunião foi realizada em Italva, na sede da EMATER*, e ter sido convocada pelo prefeito daquela cidade, Léo Pelanca, que também é o presidente do CIDENNF**. Em resumo, o peso simbólico é todo do Noroeste.
Duas considerações são ainda importantes. A primeira é que Jair Bittencourt, natural de Itaperuna, e liderança política regional mais forte no momento, ao abraçar a causa do agro, seja por ser secretário estadual de uma pasta ligada ao setor, ou por paixão pessoal, conseguiu, com seu slogan “por um interior mais forte“, concatenar os elementos – o Interior, Noroeste e a Agropecuária. Desde então o noroeste fluminense tornou-se a imagem do interior e esse interior é a imagem da agropecuária estadual.
A segunda consideração é que mesmo os adversários de Jair tem adotado uma linha de combater favoravelmente pelo agro afim de disputar espaço político com ele. Fechou-se assim o ciclo – todos a favor de uma mesma causa no Noroeste.
O resultado, que provavelmente veremos nos próximos anos, não é apenas a derrubada do veto de Lula. Percebendo o forte movimento favorável ao setor na região, políticos em geral, não importando o partido, irão passar a investir pesado na área. Agricultores passarão a contar com o respeito e o apoio do poder público e o mundo rural deve voltar a influenciar definitivamente os demais setores da sociedade e da cultura local. Pode esquecer o pagode, o Noroeste escolheu de vez o sertanejo.
*Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro
**Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense
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