Um forte sentimento paira nos comentários das publicações sobre política em Itaperuna – a sensação de que os mandatos de prefeito aqui, sempre dão errado. Desde 2000 nenhum prefeito é reeleito e desde 2004 não houve perpetuação no poder do grupo que ocupava a prefeitura, ou seja, faz 4 eleições (16 anos) que o grupo que está na Oposição vence as eleições. Considerando o atual cenário, em 2024 não temos nenhum motivo para acreditar que este ciclo será quebrado e tudo tem indicado vitória do grupo oposicionista. Vamos propor aqui alguns motivos para que isso aconteça em Itaperuna.
O primeiro motivo foi falta de vontade de “prefeitar” ou seja, ser prefeito. Todos os mandatários que estiveram ocupando a cadeira de gestor municipal após Péricles Olivier de Paula simplesmente não queriam de fato estar ali. A única exceção foi Claudão, que queria, mas sua idade o fez cansado demais para tal. Tão logo sentava na cadeira da prefeitura o mandatário da vez terceirizava o poder para auxiliares, parentes, amigos ou servidores que recebiam a ingrata missão de governar sem ter passado pela urna.
O segundo motivo é um trecho de uma música de Cazuza “o futuro repetir o passado“. Parte do grupo que ajudou a eleger Jair Bittencourt no distante 2004, posteriormente ajudou a eleger a Claudão em 2008. Depois esse mesmo grupo ajudou a eleger Alfredão, depois mudando de lado novamente ajudando a eleger Doutor Vinícius. Na eleição passada, quando o barco do Doutor começou a fazer água, abandonaram o médico para ajudar Alfredão novamente. Não duvide, as mesmas figuras esperam ansiosas a chance de mudar de lado no ano que vem. Essa situação criou um caso atípico em Itaperuna – o prefeito até muda, mas a equipe de governo não. Como a equipe é a mesma, o resultado ruim é sempre o mesmo.
O terceiro motivo é valorização da traição, que virou uma espécie de constante no universo político da cidade. A totalidade dos prefeitos destes últimos anos valorizou sobremaneira pessoas que haviam traído, a eles próprios ou a gestão imediatamente anterior a sua. Fizeram isso quase sempre motivados pela ideia de assegurar uma vitória eleitoral mais fácil. O resultado desse processo foi o sacrifício dos aliados fiéis em prol dos traidores, o que ampliava a insatisfação geral com o governo e complicava o cenário político para as eleições subsequentes. Além disso, a valorização desses personagens fez com que os prefeitos sempre começassem seu mandato reféns de parte da estrutura que foi derrotada e que por isso mesmo não lhe queria bem.
O quarto motivo é a falta de compromisso com as palavras que saem da própria boca. Uma pesquisa recente feita por um grande instituto identificou as qualidades que a população itaperunense espera de seu prefeito. A primeira característica está relacionada a melhoria da saúde, a segunda, com o cumprimento das promessas que fez. A última característica destacada é ter alguma habilidade política. Isso indica que a população não só desconfia severamente dos políticos locais, quanto espera um prefeito tenha a palavra com o peso de uma bigorna – falou, cumpriu e aconteceu. Os prefeitos que passaram sempre optaram por uma postura mais mole. Uma espécie de “espera acalmar para ver como a coisa fica” o que gerou um desgosto geral com a classe política da cidade.
O quinto e último motivo é a falta de liderança natural dos prefeitos. Todos se perderam em um pêndulo entre autoritarismo e o dinheiro. Explicamos, os prefeitos, uma vez sentados na cadeira, passavam a tratar o próprio grupo como empregados e não como parceiros. Quando percebiam o erro partiam em busca de usar a estrutura da prefeitura para garantir a eleição, colocando a cidade de joelhos do ponto de vista fiscal. Uma vez perdida a eleição ficavam desmoralizados e sem força política.
Todos esses elementos criaram para Itaperuna uma infinidade de ex-prefeitos (e ex-vice-prefeitos) que falharam em grande medida na missão de conduzir a cidade. O que lhes custou a cadeira de prefeito e o prestígio que havia vindo com ela. Alguns até conseguem reconquistar o espaço, como foi o caso de Jair Bittencourt, mas só anos após a derrota.