O Frei Rogério Soares, coordenador da Pastoral Carcerária de Brasília, acompanha há quase oito meses a realidade dos mais de 250 presos do 8 de Janeiro. Desde o dia seguinte aos atos, o religioso tem testemunhado a rotina dos encarcerados, muitos dos quais ainda aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o futuro.
“Senti de perto a dor, o sofrimento e o pavor que acometia a todos naquele dia 9 de janeiro. A incerteza e a falta de informação de qual seria seus destinos, dilaceravam seus corações. Muitos passando mal e sendo levados por ambulâncias. Desde então estamos visitando-os na Papuda e na Colmeia”, explicou o Frei, que esteve no dia 9 de janeiro por mais de quatro horas na Academia da Polícia Federal, primeiro local para onde foram levados os presos.
Desde então o Frei acompanha a situação nos presídios de Brasília, onde presta serviços religiosos e de apoio a encarcerados, que é o foco da pastoral. Os meses de trabalho do Frei Rogério com os presos no Complexo Penitenciário da Papuda, presídio masculino do Distrito Federal, e na Colmeia, a Penitenciária Feminina do DF, motivaram o religioso a escrever um ofício à presidente do Supremo, ministra Rosa Weber, pedindo atenção a cada indivíduo detido desde o início do ano.
“De acordo com as escutas que fiz, sinto o coração apertado, às vezes tendo a sensação que muitos estão tendo um remédio demasiado amargo estando até hoje encarcerados, talvez desproporcional”, diz o Frei no seu testemunho ao STF. Ele espera obter uma audiência com a ministra para poder relatar pessoalmente o que observou desde janeiro.
“Evidentemente que está claro que houve uma maldade impetrada contra os prédios dos três poderes, que pessoas completamente alucinadas investiram nessa depredação, como também se vê que o efeito manada aconteceu, por isso que digo que a boa investigação e a individualização de conduta, vão esclarecer”, pede o religioso no seu ofício ao Supremo. “O ideal seria que todas as pessoas esperasse o resultado das investigações em liberdade”, conclui.
“Pelo meu entendimento no dia 8 de janeiro houveram dois acontecimentos, o vergonhoso quebra-quebra, incitado por alguns e a manifestação pacífica. Pela individualização de conduta, se pode saber em que acontecimento cada preso estava”, explica o líder religioso.
A Pastoral Carcerária, entidade social que Frei Rogério coordena, acompanha a situação da população carcerária há mais de 50 anos em Brasília e em todo o País. Agentes da Pastoral realizam visitas religiosas, e também lutam pelos direitos humanos dos presos e acompanha suas famílias.