Nos cafezais no distrito de Boa Sorte, no município de Varre-Sai, a comunidade local juntou forças para tirar do papel o projeto de finalmente erguer a Igreja N. Sra. das Dores (Igreja do Cafezal). Em uma reunião com centenas de fiéis foi inaugurada no último dia 03 de novembro a paróquia. A igreja foi inspirada na histórica Igreja de São José, fundada em 1608, no centro da capital fluminense.
O novo templo de Varre-Sai pertence a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney e é gerido pelo Padre José Carlos Degli Esposti. O local conta com arquitetura barroca refinada, algo inédito na região, além do acabamento de sua estrutura em alvenaria. A principal atração da paróquia, a imagem de Nossa Senhora das Dores, foi feita toda em fibra de vidro, tendo sido esculpida pelo renomado artista plástico Diego Andrade.
Fruto da doação de trabalhadores, artesãos e pequenos produtores rurais, a obra custou algo na ordem de um milhão de reais para ter seus trabalhos finalizados. A construção original foi iniciada em 2010, mas só foi retomada em 2021. O terreno escolhido para a construção, fica numa fração de uma plantação de café, cedido por uma família devota de produtores rurais.
“A igreja de Nossa Senhora das Dores demorou anos para ser construída e foi viabilizada pela sociedade civil local. Quanto aos materiais, se usou o que havia de mais prático e moderno, porém mantendo o respeito à estética e aos valores ancestrais, com destaque para o altar em madeira, este sim, “importado” de Minas Gerais e feito de modo tradicional por artistas de São João del Rey“, diz o padre José Carlos Degli Esposti, que não escondeu a emoção com a inauguração do templo.
“A ficha ainda não caiu. É muito gratificante todo o apoio da nossa comunidade. A gente teve a ajuda financeira da economia do município pelo café e a força de trabalho de pessoas que tem muita fé. Estamos com muita alegria e muita satisfação de poder abrir a portas para toda comunidade católica da região“, concluiu o religioso.
Ainda na fase de resolução de problemas burocráticos, a Igreja Nossa Senhora das Dores se prepara para ter uma agenda fixa a partir da segunda quinzena de dezembro. O espaço irá funcionar todos os dias pela manhã, e terá missas aos domingos e no dia 15 de cada mês.
Segundo o especialista em patrimônio cultural, Olav Schrader, a Igreja de Nossa Senhora das Dores quebra alguns paradigmas, que segundo ele, estariam obsoletos.
“O patrimônio Cultural não é apenas algo antigo, uma construção física ou uma tradição registrada num museu e não replicável nos nossos dias. Pelo contrário, é também uma tradição viva, material e imaterial, que ressurge, cresce e se adapta aos tempos mantendo exatamente o que sempre foi, essencialmente, através das gerações”, diz o especialista, que completa.
“A Igreja de Nossa Senhora das Dores na zona rural de Varre-Sai não é um passado nostálgico e não é mais uma utopia para o futuro. É fruto do que somos em sua mais singela expressão popular de inspiração transcendental. A busca do bom, do belo e do verdadeiro está além do tempo, e aí reside justamente seu valor, transformando um cafezal em monumento.”
Fonte: Diário do Rio (redação Noroeste Informa)